
ISSN 1982-1026
Boletim de História
e Filosofia da Biologia
Tradução de artigo da área:
Douglas Allchin lembra que é hora de ensinar humildade em relação à ciência
Maria Elice de Brzezinski Prestes
Instituto de Biociências, USP
eprestes@ib.usp.br
Christine Janczur
Doutoranda do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Biológicas, IB-USP
christine.jz@gmail.com
Nesta época de forte divisionismo social, é possível eleger ao menos um consenso: o do protagonismo da ciência no ano de 2020. Para além dessa alegação, contudo, os dissensos são enormes. Os meios de comunicação, desde a chamada grande imprensa, passando pelos blogs de divulgação científica, até as postagens dos sujeitos ativos nas redes sociais, assistiu-se a um pouco de tudo. Noutro extremo, a ciência foi algumas vezes travestida da forma dogmática de instrumento de controle social. Felizmente, pode-se dizer que foi majoritariamente tomada em seu justo papel de fonte promissora das condições de enfrentamento à crise da pandemia. Foram apoiadas massivamente a busca por medicamentos, por vacinas, por meios de contenção da disseminação da epidemia. A artilharia extremista, no entanto, causou danos e colocou no colo da/o professor/a de ciências uma enorme responsabilidade. Navegando as águas mais que turbulentas das aulas remotas emergenciais, mirando horizontes muito diversos e sob quarentenas imprevisíveis e profundamente angustiantes, um farol, pálido que fosse, seria suficiente para reconectar parâmetros e alcançar ancoradouro seguro.
As reflexões, e provocações, de Douglas Allchin no artigo aqui traduzido são uma dessas (poucas) luzes. Elas são balizas flutuantes alvissareiras lançadas ao socorro dos náufragos errantes da tempestade Covid. Tomando a própria pandemia como estudo de caso, o educador de ciências norte-americano Douglas Allchin discorre sobre os variados aspectos que constituem – ou deixam de constituir – a confiança pública na ciência. Discorrendo sobre acontecimentos marcantes do início da pandemia, sua narrativa conduz por trilhas mapeadas no interior das comunidades epistêmicas e identifica determinantes de confiabilidade na ciência. Credibilidade, reputação, histórico, honestidade, cuidado com conflitos de interesse, são parte das vigas de natureza moral e social da “arquitetura da confiança” no conhecimento científico tão urgente em 2020.
Se evidências e argumentação são importantes, a pandemia dramaticamente ilustrou o quanto são, também, insuficientes. Mais que isso, e esta é a tese forte defendida pelo autor no artigo aqui traduzido, ensinar apenas argumentação pode até mesmo ser perigoso. Afinal, argumentação, ainda que desleal, é a arma utilizada pelos negacionistas atuais da ciência, oriundos de variados matizes. Allchin revela que, tanto no ensino formal de ciências – na escola presencial ou remota – quanto na divulgação para o grande público, não basta ensinar a argumentar com base em evidências. A crise social e moral decorrente da Covid-19 manifesta em diferentes países mostrou que é preciso ensinar também humildade para confiar nos especialistas – humildade em relação a quem possui competências, habilidades e conteúdos especializados. “Conhecimento especializado é difícil de ser obtido”, ressalta no final do artigo. Alegações da ciência não podem mesmo ser equiparadas às opiniões apressadas e descompromissadas de leigos ativos nas redes sociais.
Tomando a oportunidade, as tradutoras acrescentam aqui um outro alerta. O dever de ofício do professor de ciência, e do divulgador de ciência, é também o de fugir da ideologização da ciência e do cientista. Os conhecimentos da ciência não possuem natureza dogmática e não podem ser descolados da sociedade. A urgência pandêmica trouxe à tona o caráter eminentemente público das alegações científicas (subvertendo inclusive a prática monetizada de periódicos científicos que franquearam acesso às pesquisas, até mesmo àquelas ainda não completamente avaliada pelos pares). Nesse sentido, as alegações científicas são essencialmente informação – informação especializada, fundamentada em metodologias robustas, alicerçada em milênios de desenvolvimento desse tipo particular de conhecimento do mundo. Não são dogmas. São informação relevante, prioritária até, sobre a mesa das negociações democráticas, da elaboração e aprovação de políticas públicas, das famílias decidindo seus modos de agir e pensar.
Allchin é um autor bem conhecido da comunidade brasileira de pesquisa em educação científica. Seu livro Teaching the Nature of Science: Perspectives & Resources (Ensinando a Natureza da Ciência: Perspectivas e Recursos) tem recebido atenção constante especialmente nas pesquisas empíricas da área. Ele ministrou a disciplina “Ensino de História e Natureza da Ciência” no Instituto de Biociências da USP, em 2015, permitindo ampliar sua colaboração no desenvolvimento de pesquisas e publicações de jovens pesquisadores, como pode ser constatado neste número temático dos Cadernos de História da Ciência do Instituto Butantan. Além de dezenas de artigos em diferentes periódicos científicos, contribui regularmente na coluna intitulada Sacred Bovines (Bovinos Sagrados) da revista The American Biology Teacher, (ABT), um periódico profissional premiado dirigido a professores de biologia do ensino fundamental e médio. Uma coletânea desses artigos foi publicada como livro (Allchin, 2017).
Como de hábito em suas propostas de abordagem de episódios históricos ou contemporâneos da ciência, Allchin adota um estilo narrativo de fala direta ao leitor – isso significa que adota a fórmula “o que você faria”. Como será visto no texto aqui traduzido, a narrativa é entremeada de perguntas metacognitivas e metacientíficas. Quando em sala de aula, essas questões literalmente interrompem a narrativa em intervalos regulares, as “paradas para pensar”, em que as/os estudantes são estimulados a discutir e produzir suas explicações dentro de pequenos grupos ou no grupo classe. Um exemplo desse tipo de narrativa para ensinar sobre o que caracteriza um animal foi desenvolvido por Filipe Faria Berçot e publicado em número anterior deste Boletim.
“O Dilema da Covid-19” traz uma série de exemplos do país do autor, os Estados Unidos, acrescidos de material em seu website. Assim, respeitando a íntegra da tradução na forma como foi originalmente publicado, as tradutoras acrescentaram exemplos do Brasil em pequenas notas entre colchetes no texto e notas maiores de rodapé/final de texto, bem como links para materiais da realidade brasileira. Dessa forma, é dado à/ao professor/a a opção de utilizar os exemplos originais ou aqueles provenientes da mídia nacional (ou ainda ambos), da forma que julgar mais relevante à cultura escolar em que está trabalhando.
Referências:
ALLCHIN, Douglas. Sacred Bovines: The ironies of misplaced assumtions in Biology. New York: Oxford University Press, 2017.
BERÇOT, Filipe Faria; PRESTES, Maria Elice B. Narrativa de história da biologia para a sala de aula: Abraham Trembley (1710-1784) e a criatura que desafiou a classificação. Boletim de História e Filosofia da Biologia, 10 (4): 7-22, dez. 2016. Disponível em: <http://www.abfhib.org/Boletim/Boletim-HFB-10-n4-Dez-2016.pdf>. Acesso em: 30 set. 2020.
TRADUÇÃO: ALLCHIN, Douglas. The Covid 19 Conundrum. The American Biology Teacher, 82 (6): 1-5, 2020. DOI: https://doi.org/10.1525/abt.2020.82.6.429
O Dilema Covid-19
Douglas Allchin
No início de 2020, um novo vírus mortal surgiu e de súbito pareceu ameaçar o mundo com uma pandemia. Como a peste dos tempos antigos. Quais eram exatamente os riscos? Quão graves? Quais eram as precauções adequadas? Quais as possíveis soluções? Os relatos na mídia variavam. Às vezes, eles eram até mesmo conflitantes. Com vida e morte possivelmente em jogo, como um cidadão médio podia saber quais alegações eram confiáveis? A crise da Covid-19 acentuou dramaticamente a necessidade da alfabetização científica funcional.
Agora que o choque inicial passou, estamos bem posicionados para refletir sobre a história recente. Quais informações pareciam persuasivas, mas eram enganosas ou não eram verdadeiras? Quais alegações aparentemente improváveis depois se mostraram confiáveis? O que podemos aprender da experiência sobre como avaliar qualquer alegação científica particular?
A sabedoria habitual ensina que devemos julgar os argumentos por nós mesmos. Com trapaceiros e ideólogos por toda parte, não é melhor você pensar por si mesmo? Em outras palavras, se pudermos equipar as pessoas a raciocinarem cientificamente, não estaremos ajudando-as a adquirir independência intelectual? De acordo com essa visão, a argumentação é central para toda a educação científica (ver Allchin & Zemplén, 2020).
Mas surge um dilema ao se perseguir essa estratégia. Para avaliar totalmente um argumento, você precisa de evidência. No entanto, dados escolhidos a dedo ou amostras tendenciosas podem ser enganosos. Para saber se você possui informação relevante o bastante, você já tem que ser um especialista. Para interpretar uma análise estatística você precisa, primeiro, saber se foi usado o modelo estatístico apropriado. Isso também requer expertise. Para avaliar resultados experimentais, você precisa saber se os métodos eram sólidos – por exemplo, se foram incluídos todos os controles apropriados. E isso também requer o conhecimento de um especialista. Uma “simples” avaliação de um argumento parece envolver um nível extraordinário de expertise. Mas, naturalmente, esse déficit, em primeiro lugar, é a razão de o não especialista buscar uma resposta. Esse é o dilema: você pode avaliar um argumento por seus próprios méritos, sem também possuir toda a expertise necessária para isso?
Na verdade, o tema da expertise vs. argumentação reaparece nas questões mais importantes sobre o coronavírus. Considere alguns exemplos – organizados aqui na forma de um ensino por investigação, usando dados da história em vez de resultados de laboratório dos próprios alunos (ver → perguntas a serem feitas para discussão dos alunos).
Dilemas ao interpretar alegações científicas
Logo que a ameaça da pandemia surgiu, os consumidores esvaziaram nas lojas as prateleiras de desinfetantes para as mãos e de máscaras faciais. Ninguém precisava de muita ciência para estimular nas pessoas o desejo de se proteger de possíveis danos. Nesse ambiente de medo, muitos sites (e uma TV evangélica [dos EUA]) ofereceram produtos com perspectiva de proteção e cura. “VitalSilver”, uma solução de prata coloidal. Tintura de sabugueiro. Chá Boneset. Óleo de orégano. Aromaterapia antiviral com óleo essencial. Incenso [ou água quente com limão ou vitamina C]. → Algum deles era eficaz? Como você poderia saber?
Não foi preciso esperar muito por uma resposta. Nenhum desses tratamentos foi aprovado pela Administração de Comidas e Remédios dos EUA (Food and Drug Administration, FDA)1, e o governo rapidamente interveio (Brewster, 2020). Na Grã-Bretanha, o mercado foi inundado com máscaras faciais com o suposto status de proteção da N95. As máscaras ganharam rótulos de marcas conhecidas, logotipos e certificações. No entanto, muitas eram falsificadas (Daragahi, 2020). Na Índia, Ruanda, Quênia e em outros lugares [como no Brasil], pessoas foram flagradas vendendo desinfetante falso para as mãos. Alegações falsas em todos os casos. Fraudes, todas elas. Facilmente expostas, provavelmente [como na compra de respiradores que não funcionam]. Mas esses casos “simples” indicam que charlatães da ciência e alegações fraudulentas estão por toda parte (Allchin, Nov. 2012; Oct. 2018). Ao avaliar alegações científicas, a honestidade é tão importante quanto o conteúdo do argumento.
Do ponto de vista da alfabetização científica, a fraude não é tão fácil de rejeitar como se imagina. Ela coloca um problema epistêmico crítico. Em outras palavras: → Como você detecta uma fraude?
A fraude não se anuncia. Ela não é parte do argumento. É preciso dar atenção ao contexto, não apenas ao conteúdo da alegação. Quem é o orador? Por que eles estão fazendo a alegação? Existe um conflito de interesse? A atenção deve ser transferida da avaliação de o que é alegado, para a análise de quem faz a alegação e por quê. Isso também envolve evidência, mas de um tipo muito diferente. Acontece que a evidência para o contexto social é tão importante quanto para outras alegações científicas.
Outro elemento de contexto revelado por casos de fraude é o estado psicológico do receptor. → Por que – ou quando – nós confiamos nos outros? Como a confiança em informações confiáveis difere especificamente de outras formas de confiança – como orientação moral ou lealdade pessoal?
Muitos fatores contribuem para nossa sensação de confiança. Tendemos a acreditar naqueles que falam com segurança e autoconfiança (seja o que eles dizem, em última análise, verdade ou não). As emoções também contam. Medo, ou um desejo de acreditar em determinado resultado, pode distorcer o julgamento de pessoas razoáveis. Além disso, tendemos a confiar em amigos e aliados. Ou naqueles que compartilham nossas crenças, nosso senso de identidade ou um inimigo comum. Temos empatia por aqueles que sofrem inocentemente. Nossa cautela é silenciada e nossa confiança é elevada por garantias de credibilidade (mesmo que se trate de uma mentira), pela aparência, por contextos familiares ou por um consenso aparente. Tudo isso aumenta a suscetibilidade para fraudadores e charlatães da ciência.
Defensores da ciência muitas vezes salientam como a ciência é baseada no ceticismo – isto é, em ver as alegações alheias com um certo grau de dúvida. Mas talvez, dadas as emoções que acabamos de apontar, devemos também focar na atitude cética sobre nós mesmos. Nossas próprias vulnerabilidades psicológicas podem moldar fortemente quais “argumentos” ou “evidências” aceitamos como adequados. Devemos examinar criticamente nossos próprios motivos.
Casos de fraude, mesmo que pouco frequentes, fornecem uma importante lição. É extremamente importante que o contexto social e psicológico de qualquer alegação científica seja considerado, especialmente em um âmbito social.
No início da história da Covid-19, parecia que poderia não haver necessidade de se preocupar com uma pandemia global. Muitos líderes civis caracterizaram o vírus como nada mais sério do que a gripe sazonal e garantiram ao público que as coisas estavam “totalmente sob controle”. Alguns a chamaram de uma farsa. Em meados de fevereiro, após dezenas de casos terem sido detectados nos EUA, o presidente disse aos governadores: “Eu acho que vai dar tudo certo. Acho que quando chegarmos em abril, no clima mais quente, que tem um efeito muito negativo nisso, e sobre esse tipo de vírus.” No final de fevereiro, ele comentou que aqueles 15 casos “em poucos dias cairão para quase zero.” No Brasil, mesmo mais tarde, já no início de maio (quando a maioria dos Estados já estava sob quarentena há semanas) o presidente declarou que as afirmações da mídia sobre a ameaça eram irresponsavelmente exageradas [Aqui sete declarações cientificamente desinformadas de líderes mundiais sobre o coronavírus]. Normalmente, nós esperamos que oficiais do governo monitorem e ouçam os pareceres científicos. Nesse caso, foi prudente acreditar em suas alegações? Em retrospecto, nós podemos ver claramente a resposta. As mensagens minimizando os riscos foram tragicamente equivocadas. A pandemia na verdade se tornou muito séria. Mas alguém poderia ter realmente sabido disso com antecedência? → De uma perspectiva historicamente situada, o que teria sido uma base apropriada para a crença? Expertise ou argumento?
Em retrospecto, podemos ver que a confiança nos especialistas estava garantida. Avaliar as pessoas, não os argumentos ou qualquer evidência dada. Especialistas, mesmo com dados muito simples sobre transmissão e deslocamentos, podem construir modelos para antecipar como uma doença provavelmente se propagará. Assim, já na primeira semana de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um sonoro alarme e, no final do mês, já havia declarado formalmente uma “emergência de saúde pública de preocupação mundial”. (Essa frase enganosamente modesta foi o rótulo técnico para uma ameaça verdadeiramente significativa, como os episódios de Ebola, SARS e MERS dos anos recentes, cada um com centenas de mortes). Mas muitos representantes públicos eleitos para o governo pareciam discordar. → A visão de quem deve ser aceita? Quem é realmente qualificado para saber? O que é expertise?
É claro que, como observado acima, podemos estar fortemente inclinados a acreditar naqueles que concordam politicamente conosco. Mas isso não qualifica esses indivíduos cientificamente. Em vez disso, a confiança que se necessita é epistêmica. São necessárias pessoas que entendam de transmissão de doenças e de epidemiologia. Nesse caso, especialistas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (Centers for Disease Control, CDC)2, juntamente com outras autoridades reconhecidas de todo o mundo, de acordo com a OMS. Novamente, como o a história agora confirma, eles eram as vozes confiáveis. A moral? Expertise importa (Oreskes, 2019).
Considere, então, novas projeções de modelos que foram anunciadas em 22 de março, indicando que as mortes na Itália estavam chegando ao pico e que os casos de coronavírus nos EUA estariam diminuindo muito mais cedo do que a maioria dos especialistas em saúde haviam indicado (Guzman, 2020). Notícia promissora! → As alegações eram confiáveis? Com base em quê?
Nesse caso, elas vieram de Michael Levitt, um prêmio Nobel da Universidade de Stanford. Suas credenciais certamente pareciam refletir experiência. Semanas depois, no entanto, as mortes na Itália ainda estavam subindo, e casos nos EUA não mostraram sinais de enfraquecimento, mesmo com os governadores estendendo as políticas de isolamento até maio. Infelizmente, talvez, Levitt não tivesse a expertise relevante. Seu Prêmio Nobel foi em química. Ele foi reconhecido por criar o modelo da estrutura molecular de proteínas e de ácidos nucléicos, não modelos de pandemias. Os comentários originais de Levitt para o Los Angeles Times revelavam, talvez, um viés: “O que precisamos é controlar o pânico”. No âmbito geral, ele insistiu, “nós vamos ficar bem”. Os modelos de Levitt nunca foram formalmente publicados, nem endossados por especialistas em saúde. O que se necessita não é qualquer expertise, mas uma expertise relevante (Oreskes, 2019).
E o que dizer das curas? Um médico rural relatou resultados notáveis usando uma mistura de hidroxicloroquina (ou HCQ, uma droga antimalárica), azitromicina (um antibiótico) e sulfato de zinco (Roose & Rosenberg, 2020). Foi uma história inspiradora de descoberta científica: um modesto médico local, lidando com uma súbita enxurrada de casos de Covid-19, tenta uma cura obscuramente relatada e encontra o que parece funcionar milagrosamente em todos os seus pacientes. Essa foi a narrativa que chamou a atenção do presidente dos Estados Unidos, que em 20 de março a divulgou durante coletiva de imprensa nas redes de TV. Embora reconhecendo o status não comprovado da droga, ele disse: “Eu tenho uma boa sensação a esse respeito. E vamos ver. Vamos ver muito em breve”. Anthony Fauci, uma das maiores autoridades dos EUA em doenças infecciosas (com décadas de experiência), então observou que a evidência para a cura era, na melhor das hipóteses, “anedótica” e alertou contra esperança ou ação injustificadas. Vários comentaristas de notícias criticaram Fauci por desafiar a autoridade do presidente. Apesar das observações de Fauci, o presidente continuou a repetir suas alegações nas semanas seguintes, retratando a HCQ como potencialmente “uma das maiores reviravoltas do jogo na história da medicina” (Crowley et al., 2020; Reuters, 2020). Enquanto isso, outros pesquisadores médicos ecoaram a postura cética de Fauci. Novamente: → No que se deve acreditar? Cura milagrosa ou exagero tentador? Argumento ou expertise?
Pode-se imaginar, como um suposto ideal, que uma cidadã interessada investigaria e avaliaria todas as evidências por conta própria. Isso pressupõe, é claro, que tal pessoa poderia interpretar todos as sutilezas dos ensaios clínicos. Mas esse nível de expertise médica e bagagem de conhecimento vão bem além até mesmo da maioria dos consumidores instruídos. Por exemplo, se você encontrasse um estudo relatado em um jornal francês, você identificaria suas limitações, com base no pequeno tamanho da amostra, de 20 casos? Além disso, perceberia a inexistência de um grupo controle para garantir que qualquer efeito observado fosse devido à droga, e não à evolução normal dos pacientes da amostra (Allchin, May 2020) [Como o próprio presidente francês inicialmente não percebeu]. Pouco depois, outros médicos em Paris não conseguiram reproduzir os resultados. De fato, surgiram preocupações sobre como esse artigo foi revisado e se ele tinha atendido aos padrões habituais de publicação (Retraction Watch, 2020). E o estudo do médico de Nova York? Bem, ele relatou seus resultados em um vídeo dirigido diretamente ao presidente, mais tarde postado no YouTube. Não havia registros formais documentando o curso do tratamento. E, novamente, sem grupos controle. Sem evidência sistemática, alguém pode justificar alegações ousadas? Ainda assim, vários estudos clínicos foram prontamente iniciados para tratar da questão. No início de abril, no entanto, um estudo com 81 pacientes em Manaus, Brasil, foi interrompido, quando complicações cardíacas fatais se desenvolveram entre muitos pacientes (Thomas & Sheikh, 2020). Embora a FDA tivesse a HCQ aprovada para tratar outras condições, ela não é segura para uso nas doses recomendadas para a Covid-19 [mais tarde, novos estudos com amostra suficientemente grande e grupo controle foram publicados em periódicos científicos especializados, como este aqui]. Nesse ínterim, os profissionais do CDC removeram comentários sobre o uso potencial da droga no site da instituição, reafirmando sua posição inicial de que “não há medicamentos ou outras ações terapêuticas aprovadas pela FDA dos EUA para prevenir ou tratar a Covid-19” (Reuters, 2020). “Falsa esperança superestimada”, parece ser o julgamento histórico sobre a hidroxicloroquina.
Claro, a maioria das pessoas comuns não teria acesso aos recursos, nem iria dedicar tempo para analisar a HCQ tão completamente. E esse esforço nem seria realmente necessário. Como nos casos acima, a credibilidade de uma alegação é mais direta e efetivamente estabelecida pela expertise. No entanto, apesar de seu status profissional, não deveríamos ter confiado nesses dois médicos. → Por que não?
Conhecimento médico confiável não é estabelecido por uma pessoa ou por algumas pessoas, nem por alguns estudos vagos. É preciso também que os especialistas estejam de acordo. O médico local pode ser um especialista na prática da medicina. Mas ele provou não ser um especialista em pesquisa médica. O médico francês que liderou o agora contestado estudo parece ter se afastado amplamente do discurso profissional quando passou a promover sua causa no YouTube (Sayere, 2020). O consenso dos especialistas é essencial (Oreskes, 2019). Neste caso, o coletivo de especialistas informados, qualificados, nunca endossaram a HCQ para a Covid-19. Como a história agora confirma, aquele consenso de especialistas era uma base suficiente para se acreditar.
Outras alegações contestadas sobre a Covid-19 adentraram o discurso público. Por exemplo, surgiu a questão de se saber se é necessário o uso de uma máscara facial em público. Alguns disseram que era uma precaução necessária para limitar a taxa de propagação da doença. Ao mesmo tempo, um líder nacional disse: “Você pode fazer isso. Você não tem que fazer isso. Eu estou escolhendo não fazer… É apenas uma recomendação, é voluntário.” Ora, quão importante foi isso? Para citar outro exemplo, todos entenderam a importância de uma vacina desde o início, mas quando ela estaria disponível? Em fevereiro de 2020, alguns políticos prometeram que estaria disponível “em breve”, “estamos muito perto”. Outros, citando experiência histórica, estimaram 12-18 meses. Há uma grande diferença entre expectativas e planejamento. Finalmente, dadas as enormes dificuldades econômicas, quando seria seguro que todos voltem ao trabalho, reabram restaurantes, voltem à escola, aos eventos esportivos e shows? Devemos esperar uma “segunda onda”? → Pensando historicamente, quais seriam os critérios confiáveis no momento para distinguir afirmações confiáveis de não confiáveis? Expertise ou argumento?
Todos esses casos foram de maneira geral respondidos no longo prazo por aquilo que o consenso de especialistas relevantes havia indicado originalmente. Por exemplo, um mês após descartar a necessidade de máscaras faciais, a Casa Branca estava exigindo seu uso para todos os seus trabalhadores (Associated Press, 2020a). A expertise provou ser uma referência confiável. Não as alegações confiáveis ou os argumentos atraentes. Não a “evidência” seletiva emoldurada por pensamento positivo. Não os apelos emocionais. (Para casos atuais de fake news sobre a Covid-19, consulte os resumos semanais e a verificação de fatos da Associated Press, 2020b.) [No Brasil, há páginas de internet com políticas transparentes como, por exemplo, Boatos.org, AB3C Covid-19, além de iniciativas governamentais como SP Contra o Novo Coronavírus e de órgãos multinacionais como no site da Organização Pan-Americana da Saúde, OPAS, do Brasil e de Portugal, assim como da Organização Mundial da Saúde, OMS.]
A negação da expertise tem cobrado um tributo muitas vezes trágico. Um pastor norte-americano que depreciou publicamente a ideia de distanciamento social, conforme recomendado por especialistas, mais tarde morreu de Covid-19. Estudantes universitários que se reuniram nas praias durante a semana de férias de primavera [Em 2020, o chamado spring break nos EUA foi de 16 a 20 de março], assim como foliões do Mardi Gras [carnaval] algumas semanas antes, voltaram para suas casas – sem se importar com o que os especialistas estavam dizendo – para infectar família, amigos e vizinhos. Uma universidade na Virgínia, que recebeu os alunos de volta da semana de férias de primavera, logo desenvolveu um número crescente de casos, que então se espalharam nas comunidades das redondezas. A retrospectiva pode oferecer lições dolorosas e sérias.
Consenso de especialistas e conspiração
A dívida da sociedade para com os especialistas nunca é tão evidente como em ocasiões como a pandemia da Covid-19, quando a ciência ajuda a orientar as decisões que afetam a vida de milhões. No entanto, ironicamente, as crises também ocorrem quando prolifera a rejeição da expertise. Teorias da conspiração surgem e proliferam (Alba, 2020; Associated Press, 2020b; Fisher, 2020; Prooijen, 2018; Sorkin, 2020). As pessoas se tornam confiantes em suas ideias próprias, que eclipsam as dos especialistas disponíveis. Indivíduos encontram consolo entre aqueles que compartilham – e, portanto, parecem validar – suas ideias mal fundamentadas. Como essas tendências cognitivas moldam ainda mais as lições sobre como confiar em especialistas?
Por exemplo, considere a alegação de que a Covid-19 foi causada pela nova rede de telecomunicações 5G (Prooijen, 2020; Sorkin, 2020). A tecnologia 5G estava sendo introduzida na China assim que a pandemia estourou em Wuhan. Mapas de outros lugares mostraram uma correlação entre casos confirmados de corona vírus e instalações recentes do serviço sem fio 5G. Poderia ser essa a verdadeira causa? E se se pesquisar na internet, será fácil encontrar alegações anteriores de que os telefones celulares causam câncer no cérebro (base para uma decisão da Suprema Corte italiana) e que as linhas de alta tensão causam leucemia. Confirmação? Será que algo poderia explicar a conexão? Bem, o 5G poderia estar causando a doença diretamente (mas líderes políticos, ansiosos por proteger os lucros corporativos e evitar responsabilidades, culpam falsamente um vírus). Ou o 5G deve estar comprometendo o sistema imunológico, tornando mais mortal um vírus comum. Portanto: explicação plausível, evidências confirmatórias, acordo com outras teorias – todos os princípios padrão da justificação científica. → Esses critérios são suficientes para acreditar na teoria 5G de Covid-19? Por que sim ou por que não? Como esse caso poderia ser decidido?
Existem duas maneiras alternativas de desvendar esse quebra-cabeças. A primeira segue o princípio de que cada um de nós aplica o raciocínio científico por conta própria. Então, alguém que teve boa formação em ciências se lembrará de que correlação não é causalidade. Mesmo que a relação do mapa de fato existisse, isso não indicaria serem as redes 5G as culpadas. Áreas densamente povoadas, onde as torres de celulares são mais frequentes, também são justamente os locais onde naturalmente se espera que uma doença infecciosa se espalhe. Os mapas não eram uma prova. Um fragmento de evidência não é um corpo completo de evidências (Allchin, Sep. 2012). O fato de meramente se encaixar a outros casos, também não fornece validação. Se alguém checar os casos anteriores sobre radiação e doença – caso alguém investisse o esforço para mergulhar nisso – iria encontrar todos eles desacreditados. Finalmente, plausibilidade não é prova. Nossas mentes estão predispostas a “conectar os pontos”. Mas às vezes esses padrões são ilusórios. As percepções iniciais são apenas especulações. O padrão pode não se manter de forma consistente. É preciso testar a ideia sistematicamente, especialmente em casos improváveis. Acima de tudo, então, fragmentos de pensamento científico não são pensamento científico. Completude é essencial. Quando todas as verificações foram feitas, a teoria 5G desmoronou. Esse foi o consenso dos cientistas especialistas.
Mas nem sempre foi essa a conclusão dos indivíduos. Ironicamente, o método do “andar sozinho”, também é altamente suscetível à emoção, ideologia, perspectivas anteriores e dinâmica social. Primeiro, quando se busca ativamente outros casos semelhantes, os padrões de evidência tendem a ser facilitados. O viés de confirmação produz conclusões distorcidas que ainda parecem “objetivas” (Allchin, Sep. 2010). Segundo, sob angústia emocional, a plausibilidade pode parecer adequada como prova. Qualquer explicação, validada ou não, pode gerar a sensação de conforto, de “compreensão”. A emoção supera a necessidade de evidências. Similarmente, quando alguém está disposto a uma conclusão preferida – talvez alguém tema a tecnologia ou tenha tido experiências desagradáveis com a indústria de telecomunicações – a correlação pode parecer suficiente para demonstrar uma suposta ligação. Por último, sem a apropriada motivação para o rigor, uma pessoa pode não se preocupar em verificar se há erros. É por isso que os especialistas, que verificam mutuamente seus dados em uma comunidade crítica, são tão importantes. O ideal do raciocínio científico individual, independente, é bastante frágil na prática (Oreskes, 2019; Zimring, 2019).
A segunda maneira para o cidadão típico avaliar a teoria 5G é, em última análise, mais fácil e mais confiável. Como se viu nos casos acima: confiar no consenso de especialistas relevantes. Deixe que outros com mais habilidade e maior escopo de conhecimento façam todo o trabalho duro para você. Nesse caso, encontrar especialistas reconhecidos, mesmo na forma de uma respeitável organização de verificação de fatos, não foi difícil. Mesmo assim, muitas pessoas, incluindo celebridades de Hollywood e apresentadores de talk shows, acreditaram e endossaram a errônea teoria 5G. Na Inglaterra e outros países europeus, dezenas de torres de celular foram vandalizadas. → Por quê? Quais podem ter sido as razões que moldaram o pensamento daqueles que rejeitaram a ciência?
Confiar na ciência, nesta altura, parece depender de outras emoções profundas (Prooijen, 2018). Psicologicamente, todo mundo quer sentir-se dono de seu próprio destino. Um senso de agência, segurança ou controle. É um motivador poderoso. Em comparação, submeter-se à expertise nem sempre é fácil. Requer um certo grau de humildade. A situação pode exigir que uma pessoa abra mão de desejos que lhe são caros, em prol da autoridade intelectual de outra pessoa. Assim, algumas pessoas podem alimentar uma teoria errônea que acalma sua sensação de medo. Como observado acima, a incerteza aumenta a suscetibilidade emocional para a fraude ou para as falsidades persuasivas. Pode-se abraçar ideias que, embora enganosas, podem, no entanto, proporcionar uma sensação de autonomia, liberdade ou estabilidade. A pandemia da Covid-19, com seu caos emocional, parece ter ajudado a colocar mais combustível em muitas crenças não científicas.
Quando ideias alternativas não são endossadas por especialistas, os indivíduos podem buscar validação em outro lugar. Eles podem recorrer a outros que compartilham de sua inquietação emocional ou visão de mundo. A validação mútua criará seu próprio senso de autoridade. Claro, quando alguém consulta apenas indivíduos com ideias semelhantes, o aparente consenso é um falso consenso. Ainda assim, o acordo pode estabelecer um poderoso sistema de vínculo social. Produz uma sensação positiva de aceitação de grupo, de “nós” ou de identidade. O endosso compartilhado em uma rede social pode assim, psicologicamente, deslocar a autoridade de especialistas qualificados. As redes prosperam rejeitando a ciência. Teorias infundadas podem assim ganhar impulso, substituindo a expertise científica. Ou seja, com base em emoções de autonomia, sociabilidade e lealdade política, a confiança pode mudar e afirmações errôneas podem florescer.
E assim também para outras teorias. Durante uma pandemia – exatamente quando o respeito pela expertise é mais necessário – falsas teorias podem circular amplamente e parecer atraentes (Lynas, 2020; Sorkin, 2020). Os soldados norte-americanos liberaram o vírus em Wuhan, como os chineses alegaram? A China deliberadamente produziu uma arma biológica, como alguns políticos norte-americanos afirmaram? Todo o alarde e o medo foram deliberadamente planejados (ou uma farsa partidária) para influenciar as eleições (Alba, 2020)? Beber água tônica ou água sanitária diluída pode curar a doença? Todas essas falsas alegações podem ter parecido atraentes a partir de alguma perspectiva. → Que formas de pensar você usaria para escapar de ser persuadido por essas falsas teorias? Que estratégias você usaria para dissuadir alguém que achou essas teorias convincentes?
Um objetivo que tem sido tipicamente considerado fundamental na educação é o da independência intelectual para todos. Ou seja, se todos pudessem avaliar argumentos e evidências, então a ciência não deveria triunfar? Mas, ironicamente, tal atitude fomenta uma ilusão de competência que retira a deferência da expertise. Conhecimento especializado é difícil de se conseguir. Culturalmente, distribuímos o trabalho intelectual entre vários campos de expertise. Em última análise, dependemos de especialistas, sejam cientistas ou médicos ou advogados ou encanadores ou eletricistas ou contadores fiscais. Isso significa que as expectativas dos educadores em desenvolver a autonomia intelectual pode estar mal colocada (Norris, 1995; 1997). Estudantes de ciências podem precisar aprender, em vez disso, como lidar com humildade intelectual e quando respeitar o consenso de especialistas.
Além das pandemias
Refletir sobre a história recente e possíveis erros de julgamento realmente importa? Uma vez que as decisões pertencem ao passado, isso tudo não seria apenas apontar o dedo? Outro exercício na vergonhosa política de achar culpados? Seria isso mais valioso do que a retórica vazia do “engenheiro de obra pronta”?
Precisamos apenas considerar outros casos significativos em que a ciência foi (e ainda é) às vezes rejeitada: segurança da vacinação, mudança climática e evolução humana, entre outros. Por exemplo, mudança climática não é, como os opositores tentaram convencer o público, uma farsa, um golpe ou uma fraude (Allchin, Apr. 2015). A ciência é tão fundamentada quanto aquela que vislumbrou uma pandemia global de coronavírus, muito tempo antes dela realmente emergir. Talvez o papel da modelagem pareça mais claro agora? Se a pandemia de Covid-19 nos ensina alguma coisa, deve ser que não podemos mais nos dar ao luxo de desconsiderar os especialistas. E esta nova confiança pode começar com a ciência da mudança climática, cujas consequências, se não forem abordadas, provavelmente serão ainda mais devastadoras do que as da Covid-19.
Argumento ou expertise? O veredicto da história recente da Covid-19 parece ser este: confie nos especialistas, não na frágil avaliação pessoal que alguém faça das evidências. Claro, isso deixa em aberto a questão potencialmente problemática de quem é um cientista e quem é um especialista. E como você sabe disso? Esse já é um outro dilema (discutido em Allchin, May 2012; Oct. 2020).
Referências
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Notas das Tradutoras:
1 A FDA é uma agência federal criada em 1862, no Departamento de Saúde e Serviços Humanos, um dos departamentos executivos do governo federal dos Estados Unidos da América (análogos aos ministérios brasileiros). A função FDA é a de controlar e supervisionar alimentos e medicamentos, através de testes e pesquisas. A FDA é liderada pelo Comissário de Alimentos e Drogas), nomeado pelo Presidente com o conselho e o consentimento do Senado.
2 Os CDC reúnem centros de pesquisa do governo norte-americano com a missão de proteção à saúde, por meio da condução de ciência crítica e fornecimento de informações de saúde. Fundados em 1946, no contexto do pós-guerra, os CDC são um dos principais componentes operacionais do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA e são reconhecidos como a principal agência de promoção, prevenção e preparação da saúde do país. No Brasil, o órgão análogo é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, é uma agência reguladora, sob a forma de autarquia de regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde. As Agências Reguladoras criadas no governo Fernando Henrique têm por objetivo regulação, controle e fiscalização e possuem maior autonomia administrativa que uma agência executiva. como o são INMETRO, o CADE, o IBAMA e o INPI. A ANVISA, assim como a Agência Nacional de Saúde Pública Suplementar (ANS), exerce poder de polícia, com a imposição de limitações administrativas, fiscalização e repressão. Diferencia-se, portanto, de outros tipos de agências reguladoras presentes no direito brasileiro como as que regulam e controlam as atividades que constituem objeto de concessão, permissão ou autorização de serviços públicos (telecomunicações, energia elétrica, transporte público) ou concessão para exploração de bem público, como, por exemplo, petróleo, minerais, rodovias etc. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 29ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016).
Citação bibliográfica deste artigo:
PRESTES, Maria Elice de Brzezinski; JANCZUR, Christine. Douglas Allchin lembra que é hora de ensinar humildade em relação à ciência. Boletim de História e Filosofia da Biologia, 14 (3): set. 2020. Versão online disponível em: http://www.abfhib.org. Acesso em: dd/mm/aaaa. [colocar a data de acesso à versão online]